sábado, 28 de maio de 2016

Eles apoiam Dilma publicamente. E estrelaram projetos que receberam verbas públicas


                                                    (RODRIGO DA SILVA e FELIPPE HERMES- BLOG SPOTNIKS)

      Eles defendem o governo federal na televisão, nas redes sociais, em palanques e propagandas oficiais. Trazem a arte e parte da opinião pública para o coração da urna eletrônica; potencializam através de suas posições o discurso oficial: são os artistas tupiniquins que apoiam Dilma Rousseff publicamente.
Na última eleição, eles chegaram a assinar um manifesto em defesa da candidatura da presidente Dilma. O texto, que pode ser acessado nessa página, contou com o apoio de figuras ilustres – rostos que identificamos com facilidade na televisão, vozes que reconhecemos sem pestanejar na música. Embora movimentem e formem a opinião de incontáveis seguidores, parte dessas figuras, no entanto, está longe de desempenhar um papel isento em relação ao governo federal: estrelam campanhas publicitárias do governo, recebem apoios culturais, fazem parte da própria administração federal. Embora, evidentemente, nada disso seja ilegal.

1) Camila Pitanga

Camila Pitanga é uma estrela da televisão brasileira. Mais do que isso – é uma das nossas artistas mais engajadas quando o assunto em questão é política. Diretora do Movimento Humanos Direitos – grupo que conta com a participação de artistas como Wagner Moura, Letícia Sabatella, Osmar Prado e Vanessa Giácomo – Camila é envolvida diretamente com a política ao menos desde os 15 anos, quando se filiou ao Partidos dos Trabalhadores. No ano passado, repetindo o que fez nas últimas eleições, lançou apoio público ao PT na disputa à presidência.
Mais do que estrela de novela, nos últimos anos Camila se tornou também uma estrela da propaganda brasileira – mais especificamente da Caixa Econômica Federal. Entre 2012 e 2013, a atriz foi figura carimbada nos comerciais do banco. Durante o período em que esteve à frente das peças publicitárias da instituição, a Caixa Econômica Federal ultrapassou a Ambev e se tornou o 3º maior anunciante do mercado brasileiro, com um crescimento de 58% do valor aplicado em mídia durante o período – um gasto de R$ 676,5 milhões. Seguindo seus passos, a Nova/SB, agência responsável pela campanha, teve um crescimento expressivo de 108% no período. O cachê recebido por Camila Pitanga? Uma incógnita. A instituição pública afirma que o valor é uma informação “estratégica”.


Amparada pelo forte investimento da Caixa Econômica Federal, Camila teve presença cativa no dia a dia do país: apareceu em 7.336 inserções dos intervalos da programação televisa em 2012. Nenhuma celebridade esteve à frente dela no período. Nem Neymar, nem Ronaldo, nem Gisele Bündchen.
Em 2013, a atriz viu o governo federal aumentar em mais de 800% os gastos com propaganda do Minha Casa, Minha Vida, ligado à Caixa Econômica Federal, se tornando um dos principais rostos daquele que era visto como a grande cartada para as eleições do ano seguinte – em 2011, o banco gastou R$ 261 mil para divulgar o programa; em 2012, o montante subiu para R$ 1,7 milhão; em 2013, apenas entre janeiro e julho, a instituição já havia destinado R$ 15,7 milhões para essa finalidade, um aumento superior a 6.000% durante o período.
Como não haveria de ser diferente, as ações chamaram a atenção da justiça. Durante a 11ª fase da operação Lava-Jato, a Polícia Federal anunciou investigar indícios de irregularidade nos contratos publicitários da Caixa.
“O Ministério da Saúde e a Caixa Econômica contratam uma empresa de publicidade. Ela subcontrata empresas em que o Leon e o André são sócios. Essas empresas não existem fisicamente e recebem um percentual equivalente a 10% do contrato firmado com a empresa principal. Então, nos leva a crer que, provavelmente, seja um percentual a ser desviado para agentes públicos”, explicou o delegado federal Igor Romário de Paula.
A relação de Camila Pitanga com a instituição, porém, não se prende apenas com a publicidade oficial. Em 2013, em sua volta para os palcos, Camila estrelou a peça “O Duelo”, com direção de Georgette Fadel. A produção recebeu a aprovação de R$ 2.454.451,12 pela Lei Rouanet (Nº Projeto 126378), dos quais R$ 1.800.000,00 foram captados pela Caixa Econômica Federal.
Se houvesse um rosto publicitário para o primeiro mandato de Dilma, ele certamente seria o de Camila Pitanga.

2) Antônio Pitanga

Antônio Pitanga, pai de Camila Pitanga, é casado com Benedita da Silva, ex-governadora do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores e atual deputada federal. Antônio – que assim como a filha também é ator – foi vereador na década de 90 e Secretário de Estado de Assistência Social, Esporte e Lazer, no Rio de Janeiro, pelo Partido dos Trabalhadores. Histórico militante do PT carioca, Antônio verá sua vida tomar as telonas nos próximos anos, num documentário dirigido por sua própria filha.
“Quero retratar o artista que meu pai é e mostrar toda a sua genialidade. Ele sempre foi uma liderança muito importante, teve, inclusive, que se exilar na época da ditadura”, afirma Camila.
O filme, “Pitanga”, teve R$ 1.257.102,00 aprovados pela Ancine, dos quais R$500.000,00 já foram captados pelo BNDES.

3) Marieta Severo

Marieta Severo causou comoção na grande rede após rebater as críticas de Faustão ao governo federal, há poucas semanas. Militante do Partido dos Trabalhadores, a atriz fez parte do coro que cantou o jingle “Lula Lá” durante o horário eleitoral gratuito em 1989, quando era casada com Chico Buarque, e assinou o manifesto em apoio à Dilma no ano passado.
Em 2005, ao lado de Andréa Beltrão, Marieta inaugurou o Teatro Poeira, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro (CNPJ 06.335.768/0001-00). Desde então, vem recebendo grandes quantias de dinheiro público para sustentar seu empreendimento. O Poeira viu ser aprovado pela Lei Rouanet, R$ 1.243.760,00 (Nº Projeto 061276), em 2006, dos quais R$ 170.000,00 foram captados pela Eletrobras; R$ 1.024.100,00 (Nº Projeto 069639), em 2007, dos quais R$600.000,00 captados pela Petrobras; R$ 746.196,00 (Nº Projeto 084447), em 2008 e 2009, dos quais R$700.000,00 captados pela Petrobras; R$ 1.178.127,00 (Nº Projeto 101107), em 2010 e 2011, dos quais R$480.00,00 captados pela Petrobras.
A estatal também patrocinou o Teatro Poeira em outras ocasiões. O empreendimento de Marieta Severo recebeu da Petrobras exatos R$400.000,00 em 2012 (contrato 4600371639), R$400.000,00 em 2013 e 2014 (contrato 4600419492) e R$400.000,00 em 2015 (contato 4600490199). As informações estão disponíveis nesse documento.

4) Aderbal Freire-Filho

Aderbal Freire-Filho, namorado de Marieta Severo desde 2004, também fez parte do manifesto em defesa de Dilma no ano passado. Há pouco tempo, Aderbal dirigiu a peça “As Centenárias”, tendo Marieta Severo no papel principal. A peça viu R$ 908.670,00 ser aprovado pela Lei Rouanet (Nº Projeto 085885), em 2009, dos quais R$ 400.000,00 captados pela Petrobras. “As Centenárias” também captou pela Lei Rouanet outros R$500 mil (Nº Projeto 069637) e outros R$300 mil (Nº Projeto 106665), ambas ações patrocinadas pelo Bradesco.
Aderbal também dirigiu a peça “O Púcaro Búlgaro”, que ficou em cartaz no Teatro Poeira. A produção viu R$ 512.420,00 ser aprovado pela Lei Rouanet (Nº Projeto 060834), dos quais R$ 200.000,00 foram captados pela Eletrobras.

5) Paulo Betti 

Paulo Betti é um grande defensor do PT e do governo Dilma, com quem esteve presente em julho. Além de ator, assim como Marieta, também administra um empreendimento cultural.

A Casa da Gávea é uma instituição cultural privada no Rio de Janeiro, ativa na Receita Federal através do CNPJ 68.599.596/0001-21 e que tem Paulo Betti como presidente. A organização já recebeu diversos repasses de dinheiro público nos últimos anos. Através da Lei Rouanet foram R$ 732.579,26 aprovados em 2003, no primeiro ano do governo Lula (Nº Projeto 035039), dos quais R$ 499.200,00 captados pela Petrobras; R$ 999.945,00 aprovados em 2006 (Nº Projeto 057945), dos quais R$ 150.000,00 captados pela Petrobras; e R$ 723.911,00 aprovados em 2007 (Nº Projeto 076508), dos quais R$ 360.000,00 captados pela Petrobras.
Quando Paulo Betti estreou na direção de musicais, com a produção “A Canção Brasileira”, a peça recebeu a aprovação de R$ 895.120,00 da Lei Rouanet (Nº Projeto 044024), dos quais R$ 526.963,00 foram captados: R$ 373.963,00 da Eletrobras, R$ 80.000,00 dos Correios e R$ 40.000,00 da Eletrobras Furnas.
Por fim, o ator viu o Ministério da Justiça (Convênio Nº 756166/2011) conceder R$ 388.244,64 para a peça “À Prova de Fogo”, recomendada por José Dirceu:
“À Prova de Fogo” foi escrita em 1968, por uma grande e talentosa amiga, a dramaturga Consuelo de Castro, e narra a história de luta e resistência contra o poder militar no país. Imaginem, portanto, o seu impacto naqueles anos, no calor dos acontecimentos do movimento estudantil e da repressão. Censurado, o texto de Consuelo foi encenado clandestinamente e sua mensagem reforçava o ânimo na luta e na resistência ao regime, além de impactar a sociedade brasileira. Não deixem, portanto, de prestigiar as apresentações da Casa da Gávea e conheçam mais sobre o excelente projeto de formação artística dessa nova geração de atores no país.”
Você acessa o convênio do Ministério da Justiça com a Casa da Gávea clicando aqui.

6) Beth Carvalho

Beth Carvalho é reconhecida por sua visão política. Antiamericana, chegou a afirmar que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos quer acabar com o samba:
“A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura.”
A sambista também é inequívoca defensora do regime venezuelano.
“Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.”
Filiada ao PDT, Beth Carvalho apoiou Lula em todas as suas campanhas presidenciais e integrou o coro do jingle “Lula Lá” em 1989. Também apoiou Dilma nas duas últimas eleições.
Ao lançar o CD e DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia, teve R$ 1.664.129,00 aprovados pela Lei Rouanet (Nº Projeto 063306), dos quais R$ 832.000,00 captados pela Petrobras.

7) Sérgio Mamberti

Sérgio Mamberti é um histórico aliado de Dilma e Lula. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, o ator passou a ocupar diversos cargos no Ministério da Cultura, assim que Lula assumiu a presidência do país. Mamberti atuou por diversas secretarias até conquistar a presidência da FUNARTE.
Durante o período em que atuou como funcionário público, o ator custou R$ 630.427,44 aos cofres públicos, entre passagens, diárias e restituições, segundo dados do Portal da Transparência. Após deixar o MinC, em 2013, o ator subiu novamente aos palcos dos teatros e nos palanques políticos.
Durante a campanha presidencial do ano passado, declarou voto em Dilma como uma das ilustres figuras artísticas do país. Mais tarde, durante os protestos pró-impeachment que sucederam a corrida eleitoral, o ex-secretário convocou a militância petista para defender a presidente e insinuou um clamor pela volta dos black blocs para bagunçar o que ele chamou de “convescote de rico”.
Para artistas politicamente engajados como Sérgio Mamberti, aparentemente “convescotes de ricos” só são justificados quando bancados por dinheiro público.


8) Chico Buarque

Consagrado como cantor e compositor, Chico Buarque é figura carimbada em 10 entre 10 manifestos ou cartas de apoio à presidente Dilma. Anti-impeachment, Chico assinou, entre outras coisas, o manifesto em apoio ao ex-deputado e condenado pelo mensalão José Genoíno.
Suas relações com o governo são relativamente próximas. Sua irmã, Ana de Holanda, já foi ministra da Cultura, por exemplo. Mais próxima ainda é a relação de Chico com a Lei Roaunet e a Agência Nacional do Cinema, a Ancine. Seu irmão, Lula Buarque, recebeu autorização da ANCINE para captar R$ 10 milhões para gravar o filme baseado no livro “Leite Derramado” (do próprio Chico). Sua namorada, Thaís Gulin, recebeu da Lei Rouanet autorização para captar R$ 801 mil para produzir seu terceiro CD (projeto 138444), além da sua turnê. O documentário sobre Chico, “Chico: O Artista e o Tempo”, por sua vez, recebeu outros R$ 4 milhões de autorização através da Ancine, sendo parte do valor destinada a pagar direitos autorais.
Chico não utiliza verba da Rouanet para seus shows ou discos. Os recursos, porém, estão nas mais diversas obras que cercam o cantor, como a tradução de seu livro para o coreano, que levou outros R$ 7 mil em patrocínio da Biblioteca Nacional.

9) Wagner Moura


Estrela em ascensão em Hollywood e no mercado americano, Wagner Moura não abandono o cinema nacional, onde se consagrou como o Capitão Nascimento, de Tropa de Elite. Através da O2, produtora do cineasta Fernando Meirelles, Wagner deve estrear em breve como diretor. A obra? “Marighella”.
Recentemente, o ator – e agora diretor -, mostrou o quão polêmico deve ser o filme, declarando que “a direita burra achará que Marighella foi um terrorista”. Marighella como se sabe, foi um revolucionário brasileiro, autor do livro “Mini-manual do guerrilheiro urbano”, onde declara que “o terrorismo é uma arma que o guerrilheiro urbano não pode abandonar”.
Moura faz parte do recém instaurado “Conselhão” da presidente Dilma, que envolve sindicalistas, empresários e artistas. O ator é conhecido pelo seu apoio constante a candidatos do PSOL, em especial ao deputado Marcelo Freixo. O ator também já declarou considerar o movimento de impeachment um “maniqueísmo”, “movimento de elite, de gente branca”, além da sempre presente acusação de golpismo.
Seu filme sobre Marighella deverá contar, além do apoio do governo petista da Bahia, com R$ 10 milhões em autorizações da Ancine para captar recursos, sendo R$ 3 milhões em investimento direto da agência.

10) Gregório Duvivier


O ator e comediante Gregório Duvivier ganhou projeção com o lançamento do canal do youtube “Porta dos Fundos”. Com a fama, tornou-se também colunista do maior jornal do país, a Folha de São Paulo. Em sua coluna, Gregório costuma criticar movimentos a favor do impeachment e aquilo que ele entende como “golpismo” de uma direita burra e autoritária. Recentemente, o ator chegou à conclusão, em uma entrevista para a TV Portuguesa, de que “querem tirar Dilma para roubar mais”.
Há pouco tempo, Gregório teve alguns de seus tweets antigos expostos em uma coletânea que mostra toda sua opinião num período onde, para se dizer o mínimo, ele não era um entusiasta do governo Dilma. Em um deles, por exemplo, o comediante diz achar “que o filme do Lula não ganha o Oscar” porque “os jurados não vão aceitar Bolsa-Família”.
Recentemente, Gregório foi chamado para escrever crônicas e fazer vídeos com o intuito de “motivar” os funcionários do Banco do Brasil. O valor não foi revelado.

11) Flávio Renegado


Para o rapper Flávio Renegado, os cerca de 1 milhão de manifestante que frequentaram os protestos na Avenida Paulista são “membros da Ku Klux Klan que batem panela”. A declaração, igualando os manifestantes brasileiros aos membros da organização racista que defende a supremacia branca fundada nos Estados Unidos, foi feita durante a apresentação do Criança Esperança 2015, na Rede Globo.
Em outra oportunidade, ao lado de Lula no palanque, o rapper acusou o candidato Aécio Neves de cheirar cocaína, evocando uma multidão que sob a complacência de Lula, em plena campanha eleitoral, decidiu gritar acusando o candidato adversário de ser usuário de drogas. Flávio também gravou um vídeo em apoio à candidata Dilma Rousseff.
O rapper recebeu autorização para captar recursos para a turnê de seu primeiro DVD, que percorreu 8 capitais. Os recursos autorizados somam R$ 389 mil (projeto 151644).

12) Jô Soares


O humorista e apresentador Jô Soares tem se destacado pelas opiniões favoráveis ao governo e, em especial, à presidente Dilma. Jô, que comanda um quadro especial em seu programa para debater política ao menos uma vez na semana, já utilizou seu espaço na TV para declarar entre outras coisas que “José Dirceu é um homem de uma biografia inconstável”, e que não se pode pré julga-lo a despeito de Dirceu ser condenado por formação de quadrilha no processo do Mensalão.
Quando o assunto é Dilma, porém, Jô vai mais longe. Em um de seus programas, no auge da crise de popularidade enfrentada por Dilma, o comediante foi até o Palácio do Planalto entrevistar a presidente. O apoio de Jô à Dilma também rende opinião como as de que segundo o apresentador “paga-se pouco imposto no Brasil, visto que o país ainda precisa crescer bastante”.
Como diretor de teatro, Jô pode contar com o apoio de leis como a Rouanet, que o autorizaram a captar R$ 1,9 milhão para produzir a peça Troilo e Cressida, obra do escritor britânico William Shakespeare.



Entre 2003 e 2014, as autorizações para a captação de recursos apenas pela Lei Rouanet atingiram R$ 61,27 bilhões. Os valores captados efetivamente, entretanto, são mais modestos: R$ 15,758 bilhões. Deste valor, em 2014, por exemplo, nada menos do que 50% ficaram com apenas 3% dos proponentes. Ainda que todos estes valores sejam legais, é natural que qualquer pessoa se questione até onde tamanha quantidade de recursos é capaz de formar a opinião daqueles que vivem de formar opinião.

*com a colaboração de Leônidas Villeneuve

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