terça-feira, 28 de agosto de 2012

Rorion,o Grão-Picareta


 
Texto integral do e-mail enviado ao jornalista Eduardo Zobaran sobre a entrevista com Rorion Gracie,publicada no caderno de esportes do jornal O Globo em 24 de agosto de 2012:
   


Prezado Eduardo:

Infelizmente nós,verdadeiros praticantes e admiradores das artes marciais,somos obrigados a ver e ouvir inúmeros festivais de imbecilidades e fanfarronices alardeados pela Mídia. É o caso da entrevista com o sr. Rorion Gracie,publicada em 24/08/2012.
Para início de conversa,não existe “jiu-jitsu” e sim jujitsu. O kanji JU (= suave) não tem essa pronúncia em nenhum lugar do Japão – e desafio qualquer linguista ou estudioso da cultura nipônica a provar o contrário. O único regionalismo observado é a pronúncia 'DJU' ao invés do 'JU',bem diferente portanto do 'GIU' proferido pelos aculturados.
Segundo,ninguém da família Gracie criou ou aperfeiçoou nada,apenas souberam passar adiante as soberbas lições de ne-waza (luta de chão) que receberam de Mitsuyo Maeda,o famoso discípulo de Jigoro Kano, Pai do Judô.
Quanto ao sr. Rorion,é de bom tom lembrar da péssima fama que goza não só entre os empresários do ramo de lutas como também no próprio meio de professores/instrutores, entre eles gente de sua família (arrogante,patenteou o nome 'Gracie Jiu-Jitsu' -sic- e cobra royalties,inclusive de primos e irmãos, para seu uso). Não é preciso muita perspicácia para notar a aura de excelência e invencibilidade na qual se traveste: afirma categoricamente ser capaz de desviar-se magicamente de socos e chutes,enraizar-se no solo e não poder ser derrubado, vencer todo e qualquer tipo de oponente independentemente da técnica utilizada por este. Ainda afirma “nunca ter desrespeitado ninguém” apesar de inúmeros registros em vídeo nos quais aparece depreciando oponentes dos irmãos ou fomentando discussões em ginásios e ringues.... Fica a dúvida: toda essa fantasia é fruto de caráter falho e marketing indecoroso ou o sr. Rorion realmente sofre de algum distúrbio delirante ?
A organização do Ultimate Fighting Championship foi cuidadosamente planejada,a começar pela escolha de lutadores pífios e completamente desconhecidos,com raríssimas exceções. Entre os competidores das primeiras edições encontravam-se carteiros, bombeiros, lixeiros, carcereiros, seguranças de inferninhos de beira de estrada e outros tipos de atletas que provavelmente treinam menos de 3 horas por semana. Assim é muito fácil provar a “superioridade” de uma arte marcial sobre as demais,não é mesmo? Mr. Gracie diz que no tempo dele no UFC era bom,era “briga de verdade”. Seria interessante se o “mestre” Rorion explicasse como o fato de ficar deitado no solo com o adversário por cima na guarda,esperando horas por um errinho fortuito,é prova de eficiência. Saberá ele que o objetivo das técnicas de solo é dominar o adversário da maneira mais eficaz e rápida possível e encerrar uma situação de confronto onde frequentemente havia (há) risco de vida? Ou pensa que em uma briga de rua ou agressão sexual há tempo de se ficar brincando no chão enquanto se leva uma pedra – ou coisa pior – na cabeça?
A luta de Dan Severn e Royce Gracie no UFC 4 (16 de dezembro de 1994) durou exatos 15 minutos e 49 segundos (terminando de uma forma que muitos ainda consideram bastante suspeita). E mesmo se durasse as alegadas 2 horas e 03 minutos,a obrigação contratual do pay-per-view é transmitir o evento integralmente, sem ônus para o assinante. O que iniciou a celeuma da limitação de tempo foi a fraquíssima Superfight entre Ken Shamrock e Royce no UFC 5 (07/04/1995),que durou 36 minutos e na qual o “invencível” Gracie se limitou a ficar por baixo,pateticamente dando tapinhas na nuca e golpes de calcanhar no dorso do adversário nos primeiros 15 minutos e levando socos,cotoveladas e cabeçadas deformantes no rosto durante o restante do tempo. “Garfaram” o Shamrock declarando a luta empatada,o público presente vaiou estrondosamente e exigiu um limite de tempo rígido para acabar com esse tipo de palhaçada. Vendo suas teorias de “superioridade” e “briga de verdade” indo pelo ralo e sendo cobrado pelos inúmeros desfalques e calotes aplicados contra empresários, lutadores e colaboradores,só restou ao sr. Rorion pular do barco e vender a preço de banana sua parte nessa mina de ouro - na época tão mal explorada.
Finalizando,acredito ser altamente saudável que vocês da Imprensa leiga procurem conhecer as verdadeiras versões dos fatos ao invés de se pautarem em boatos e interesses comerciais/pessoais de terceiros que,sinceramente,espero não refletirem suas convicções próprias. Diversifiquem,pesquisem sobre quem são os verdadeiros professores – no sentido amplo da palavra,aqueles que passam o espírito genuíno das artes marciais – e parem de encher a bola de picaretas fanfarrões que apenas fomentam confusões.