Texto integral do e-mail enviado ao jornalista Eduardo Zobaran sobre a entrevista com Rorion Gracie,publicada no caderno de esportes do jornal O Globo em 24 de agosto de 2012:
Prezado
Eduardo:
Infelizmente nós,verdadeiros
praticantes e admiradores das artes marciais,somos obrigados a ver e
ouvir inúmeros festivais de imbecilidades e fanfarronices alardeados
pela Mídia. É o caso da entrevista com o sr. Rorion
Gracie,publicada em 24/08/2012.
Para início de conversa,não
existe “jiu-jitsu” e sim jujitsu.
O kanji JU (= suave) não tem essa pronúncia em nenhum lugar do
Japão – e desafio qualquer linguista ou estudioso da cultura
nipônica a provar o contrário. O único regionalismo observado é a
pronúncia 'DJU' ao invés do 'JU',bem diferente portanto do 'GIU'
proferido pelos aculturados.
Segundo,ninguém da família
Gracie criou ou aperfeiçoou nada,apenas souberam passar adiante as
soberbas lições de ne-waza (luta de chão) que receberam de Mitsuyo
Maeda,o famoso discípulo de Jigoro Kano, Pai do Judô.
Quanto ao sr. Rorion,é de bom
tom lembrar da péssima fama que goza não só entre os empresários
do ramo de lutas como também no próprio meio de
professores/instrutores, entre eles gente de sua família
(arrogante,patenteou o nome 'Gracie Jiu-Jitsu' -sic- e cobra
royalties,inclusive de primos e irmãos, para seu uso). Não é
preciso muita perspicácia para notar a aura de excelência e
invencibilidade na qual se traveste: afirma categoricamente ser capaz
de desviar-se magicamente de socos e chutes,enraizar-se no solo e não
poder ser derrubado, vencer todo e qualquer tipo de oponente
independentemente da técnica utilizada por este. Ainda afirma “nunca
ter desrespeitado ninguém” apesar de inúmeros registros em vídeo
nos quais aparece depreciando oponentes dos irmãos ou fomentando
discussões em ginásios e ringues.... Fica a dúvida: toda essa
fantasia é fruto de caráter falho e marketing indecoroso ou o sr.
Rorion realmente sofre de algum distúrbio delirante ?
A organização do Ultimate
Fighting Championship foi cuidadosamente planejada,a começar pela
escolha de lutadores pífios e completamente desconhecidos,com
raríssimas exceções. Entre os competidores das primeiras edições
encontravam-se carteiros, bombeiros, lixeiros, carcereiros, seguranças
de inferninhos de beira de estrada e outros tipos de atletas que
provavelmente treinam menos de 3 horas por semana. Assim é muito
fácil provar a “superioridade” de uma arte marcial sobre as
demais,não é mesmo? Mr. Gracie diz que no tempo dele no UFC era
bom,era “briga de verdade”. Seria interessante se o “mestre”
Rorion explicasse como o fato de ficar deitado no solo com o
adversário por cima na guarda,esperando horas por um errinho
fortuito,é prova de eficiência. Saberá ele que o objetivo das
técnicas de solo é dominar o adversário da maneira mais eficaz e
rápida possível e encerrar uma situação de confronto onde
frequentemente havia (há) risco de vida? Ou pensa que em uma briga de
rua ou agressão sexual há tempo de se ficar brincando no chão
enquanto se leva uma pedra – ou coisa pior – na cabeça?
A
luta de Dan Severn e Royce Gracie no UFC 4 (16 de dezembro de 1994)
durou exatos 15 minutos e 49 segundos (terminando de uma forma que
muitos ainda consideram bastante suspeita). E mesmo se durasse as
alegadas 2 horas e 03 minutos,a obrigação contratual do
pay-per-view é transmitir o evento integralmente,
sem ônus para o assinante. O que iniciou a celeuma da limitação de
tempo foi a fraquíssima Superfight entre Ken Shamrock e Royce no UFC
5 (07/04/1995),que durou 36
minutos
e na qual o “invencível” Gracie se limitou a ficar por
baixo,pateticamente dando tapinhas na nuca e golpes de calcanhar no
dorso do adversário nos primeiros 15 minutos e levando
socos,cotoveladas e cabeçadas deformantes no rosto durante o
restante do tempo. “Garfaram” o Shamrock declarando a luta
empatada,o público presente vaiou estrondosamente e exigiu um limite
de tempo rígido para acabar com esse tipo de palhaçada. Vendo suas
teorias de “superioridade” e “briga de verdade” indo pelo
ralo e sendo cobrado pelos inúmeros desfalques e calotes aplicados
contra empresários, lutadores e colaboradores,só restou ao sr.
Rorion pular do barco e vender a preço de banana sua parte nessa
mina de ouro - na época tão mal explorada.
Finalizando,acredito ser
altamente saudável que vocês da Imprensa leiga procurem conhecer as
verdadeiras versões dos fatos ao invés de se pautarem em boatos e
interesses comerciais/pessoais de terceiros que,sinceramente,espero
não refletirem suas convicções próprias. Diversifiquem,pesquisem
sobre quem são os verdadeiros professores – no sentido amplo da
palavra,aqueles que passam o espírito genuíno das artes marciais –
e parem de encher a bola de picaretas fanfarrões que apenas fomentam
confusões.